Se este post tivesse sido escrito há algumas horas, ele teria outra cara. Muito, muito pior. E down. Porque eu iria contar como o meu domingo foi péssimo! Sem dó e nem piedade de como vocês ficariam após lê-lo. Se ficariam se remoendo como eu fiquei o dia todo. Eu queria pôr pra fora mesmo enquanto a história não tivesse um desfecho. Talvez alguém lá de cima tenha ficado com dó de vocês e mexeu seus palitinhos. Porquê de mim, ninguém teve dó, até há algumas horas.
(…)
Estava eu, comendo meu pastel na feira em frente de casa, ao meio dia aproximadamente. O Manso também estava lá, comendo restos de pastel e balançando seu rabinho feliz e contente. De manhã, ele já tinha brincando muito com a Lilo, e como havia chovido de madrugada, os dois estavam parecendo porquinhos!
De repente, um cachorro maior correu atrás dele e ele se desnorteou um pouco e resolveu sair correndo da feira e ir para a praça, onde ele mora. Havia uma rua no meio do caminho. E um carro descendo a rua em disparada. Uma freada brusca. Uma batida fenomenal. Imaginei que nunca mais a Lilo brincaria com seu amigo. Que eu nunca mais levaria água e ração para ele. Que nunca mais veria ele na praça onde levo a Lilo todos os dias, duas vezes por dia. Ouço um choro de cachorro. E vejo o Manso correr em disparada de volta. Desnorteado, chorando, correndo insanamente. Um cara do meu lado, que também conhecia o Manso saiu correndo atrás. E mais outro com um carro. Mas o danado correu e sumiu.
O carro que o atropelou? Nem sinal. Nem nada. Um covarde ao volante.
Deixei as compras da feira em casa e fui para a praça saber notícias. O cara de carro ainda estava procurando-o. Voltei para casa.
Passei a tarde revendo a cena, com o coração apertado. Chorando, atônita. Lembrando do quanto ele estava feliz e bem. Voltei lá na praça às três e meia da tarde. O cara do carro não tinha achado o cachorro. Nem a senhora que me dava notícias, que também ajudou na busca.
Mais um pouco de sofrimento. Tristeza. Eu e o Rô saímos à procura dele, de carro. Nem sinal.
Às oito horas da noite saí para passear com a Lilo na praça, levando água. “Para quê a água?”_ me perguntou Rodrigo. “Para, caso o Manso apareça, ela tenha o que beber.”
Na praça, tomei outro caminho com medo de olhar para a casinha vazia do Manso. Quem veio ao meu encontro? Ele. Não acreditei. Quase ajoelhei e agradeci aos céus. Abracei-o, apalpei-o para ver se não tinha nada quebrado, e depois dei uns tapas na bunda dele e chamei-o de feladaputa por não ter olhado antes de atravessar. Ele estava assustado e carente, até pediu carinho ao Rodrigo, que nunca morreu de amores por ele. Também estava mancando da perna esquerda e com a direita ralada da queda. Animou-se e até brincou um pouco com a Lilo, devagar. Sem balançar o rabo.
Vim para casa um pouco melhor. Gostaria de ter dinheiro para levá-lo a um veterinário, só para ter certeza de que ele está bem. Vou conversar com o cara que mais cuida dele na praça e ver o que ele vai fazer. Gostaria que ele tivesse um dono. Uma coleira com um telefone para que pudessem ligar caso ele se perca.
(…)
Ficou mal? Pois faça o favor de não trânsitar pelas ruas em alta velocidade. Faça o favor de parar para prestar socorro quando atropelar um animal ou uma pessoa. Faça o favor de não abandonar seu animal. Cuide de quem você ama e de quem te ama.
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Tags:acidente, cachorro