Quando estava lendo o livro Comer, Rezar, Amar, me deparei com esses trechos sobre ioga.
O livro tem seus pontos altos e baixos, tem os momentos de enfadonho, mas tem também seus momentos de reflexão…
Acho ioga bem interessante, nunca pratiquei_ ainda_ e achei o trecho abaixo bem legal…
“_ Por quê a gente pratica ioga?_ ele tornou a perguntar. _Será que é para ficarmos um pouco mais flexíveis do que os outros? Ou será que existe algum propósito maior?
Yoga, sem sânscrito, pode ser traduzido como “união”. (…) A tarefa do ioga é encontrar união_ entre mente e corpo, entre o indivíduo e seus Deus, entre nossos pensamentos e a origem de nossos pensamentos, entre professor e aluno, e até mesmo entre nós e nossos semelhantes às vezes tão pouco flexíveis.
(…) Mas ioga também pode significar tentar encontrar Deus por meio da meditação, por meio do estudo erudito, por meio da prática do silêncio, por meio do serviço da devoção, ou por meio de um mantra_ a repetição de palavras sagradas em sânscrito. (…) ioga não é sinônimo de hinduísmo. (…) O verdadeiro ioga não compete com nenhuma religião, nem a exclui. Você pode usar o seu ioga_ as suas práticas disciplinadas de união sagrada_ para se aproximar de Krishna, Jesus, Maomé, Buda ou Javé. (…)
O caminho do ioga consiste em desatar os nós inerentes à condição humana, algo que definirei aqui, de forma extremamente simplificada, como a desoladora incapacidade de sustentar o contentamento. Ao longo dos séculos, diferentes escolas de pensamento encontraram explicações diferentes para o estado de aparente falha inerente do ser humano. Os taoistas chamam-no de desequilíbrio; o budismo, de ignorância; o islamismo põe a culpa de nosso pesar na rebelião contra Deus; e a tradição judaico-cristã atribui todo o nosso sofrimento ao pecado original. Os freudianos afirmam que a infelicidade é o resultado inevitável de u embate entre nossas pulsões naturais e as necessidades da civilização. (…) Os iogues, no entanto, dizem que o descontentamento humano é um simples caso de identidade equivocada. Nós somos infelizes porque achamos que somos meros indivíduos, sozinhos com nossos medos e falhas, com nosso ressentimento e nossa mortalidade. Acreditamos equivocadamente que nossos pequenos e limitados egos constituem toda a nossa natureza. Não conseguimos reconhecer nossa natureza divina mais profunda. Não percebemos que, em algum lugar dentro de todos nós, existe um Eu supremo que está eternamente em paz. Esse Eu supemo é a nossa verdadeira identidade, universal e divina. Se você não perceber essa verdade, dizem os iogues, estará sempre desesperado, idéia expressa de forma inteligente na seguinte frase irritada do filósofo estoico grego Epíteto: “Você leva Deus dentro de si, seu pobre desgraçado, e não sabe disso”.
Ioga é o esforço que uma pessoa faz para vivenciar pessoalmente a sua divindade, e em seguida para sustentar essa experiência para sempre. Ioga é domínio de si e esforço dedicado a desviar a atençao de reflexões intermináveis sobre o passado e preocupações infindáveis com o futuro para, em vez disso, conseguir buscar um lugar de eterna presença, de onde se possa olhar com tranquilidade para si mesmo e para o mundo ao redor. Somente dessa perspectiva de equilíbrio da mente é que a verdadeira natureza do mundo (e de você próprio) lhe será revelada. Os verdadeiros iogues, de sua posição de equanimidade, veem este mundo todo como a mesma manifestação da energia criativa de Deus_ homens, mulheres, crianças, nabos, piolhos, corais: tudo isso é Deus disfarçado. Mas os iogues acreditam que a vida humana é uma oportunidade muito especial, pois somente na foma humana, e somente com uma mente humana, é que a percepção de Deus pode ocorrer. Os nabos, os piolhos, os carais_ eles nunca têm a oportunidade de descobrir quem realmente são. Mas nós temos essa oportunidade.
“Nosso propósito nesta vida, portanto”, escreveu Santo Agostinho, ele próprio um pouco iogue, “é recuperar a saúde do olhos do coração através do qual se pode ver Deus.”
Assim como todas as grandes idéias filosóficas, essa é simples de entender, mas praticamente impossível de absorver. Tudo bem_ então somos todos um, e a divindade habita todos nós igualmente. Sem problemas. Entendido. Mas, agora, tente viver de acordo com isso. Tente pôr essa compreensão em prática 24 horas por dia. Não é tão fácil. E é por isso que, na Índia, parte-se do princípio de que você precisa de um instrutor para o seu ioga. A menos que você tenha nascido um daqueles raros santos de brilho incomum, que já vêm ao mundo inteiramente despertos, vai precisar de um guia em sua jornada rumo à iluminação. Se tiver sorte suficiente, encontrará um Guru vivo. (…)
Um grande iogue é qualquer pessoa que tenha alcançado o estado permanente de júbilo iluminado. Um Guru é um grande iogue capaz de transmitir esse estado para outras pessoas. (…)”
Comer, Rezar, Amar de Elizabeth Gilbert
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